quinta-feira, 25 de junho de 2015

Microalgas decompõem dejetos suínos e geram biodiesel

Segundo pesquisador, as microalgas podem ser usadas para remover os nutrientes nos efluentes de dejetos suínos. Além de limpar a água, aumentam a capacidade de geração de biogás


Da Redação, com Assessoria
É provável que, em breve, plantas invisíveis ao olho humano provoquem mudanças importantes na suinocultura brasileira. Estudos da Embrapa Suínos e Aves (SC) comprovaram que microalgas podem ser utilizadas com grande eficiência no tratamento dos dejetos suínos e na geração de biogás. Em um horizonte um pouco mais amplo, serão também matéria-prima de qualidade para produção de rações para uso animal, biocombustíveis e até produtos fármacos e cosméticos.
As microalgas são unicelulares e crescem em água doce ou salgada. Como seu próprio nome diz, são muito pequenas. Tão pequenas que seu tamanho é medido em micrômetros (um micrômetro equivale à milésima parte do milímetro). A estimativa é de que existam cerca de 800 mil espécies de microalgas no mundo.
O centro de pesquisa da Embrapa analisa o uso de microalgas no tratamento de dejetos suínos desde meados dos anos 1990. A observação das microalgas que naturalmente surgem nas lagoas instaladas na sequência de biodigestores existentes em propriedades rurais no oeste de Santa Catarina fez com que os pesquisadores da Embrapa optassem por um caminho em especial.

Limpeza com geração de gás
“Hoje, estamos seguros de que as microalgas podem ser usadas para remover os nutrientes nos efluentes de dejetos de suínos. Além de limpar a água, elas podem ser colocadas, por exemplo, no interior do biodigestor para aumentar a capacidade de geração de biogás”, explica o pesquisador Marcio Busi da Silva.
A proposta da Embrapa, que trabalha em parceria com instituições como a Universidade Estadual de Santa Catarina (Udesc) e a Universidade do Oeste de Santa Catarina (Unoesc), pode fazer de um problema histórico uma solução promissora. Os dejetos suínos foram vistos nas últimas três décadas como forte ameaça ambiental nas regiões que concentram a produção.
Como as microalgas se alimentam justamente dos nutrientes presentes nos dejetos, elas têm a capacidade de tornar mais eficientes os sistemas de tratamento instalados no campo. Mas esse não é o principal ganho. De acordo com o pesquisador, o que deve revolucionar a forma como os dejetos suínos são vistos é o uso posterior da biomassa de microalgas, gerada a partir dos resíduos da produção. Biomassa é todo recurso originado de matéria orgânica capaz de produzir energia.
No modelo já testado em laboratório pela Embrapa e facilmente aplicável à realidade da suinocultura nacional, as microalgas são recolhidas e inseridas novamente no biodigestor, aumentando significativamente a geração de biogás. Assim, é possível produzir energia elétrica ou gás em maior volume e constância. “Só essa melhoria já teria um impacto importante, especialmente no Sul do Brasil, em que há uma pressão ambiental maior sobre a atividade”, destaca Marcio Busi.
Se o interesse despertado entre empreendedores do País pode ser usado como um termômetro, é quase certo que as microalgas tendem realmente a ocupar um espaço importante no mundo da suinocultura nos próximos anos. Neste momento, existem cerca de dez empresas no País tentando viabilizar negócios que têm as microalgas como elemento central. Uma delas é a Séston Biotecnologia, que trabalha em parceria com a Embrapa Suínos e Aves. Para Fábio de Farias Neves, sócio da empresa e professor da Udesc, o negócio de transformação das microalgas em vários produtos está quase no ponto de sair dos laboratórios para o campo no Brasil. No caso da Séston, serão colocados no mercado cosméticos e itens de nutrição animal.
Outro esforço da Embrapa volta-se para a formação de um banco de germoplasma com as espécies de microalgas existentes no Brasil. A Embrapa Agroenergia e a Embrapa Suínos e Aves atuam em conjunto nesse objetivo, liderado pelo pesquisador Bruno Brasil.
De etanol a cosméticos
As microalgas são uma aposta para a oferta de biocombustíveis no futuro. Elas têm três vantagens, em especial, sobre outros vegetais também utilizados para a produção de combustíveis, como o milho e a soja: crescem rápido, não necessitam de grandes espaços para cultivo e não reduzem a oferta de importantes alimentos humanos.
De acordo com a revista Exame, de 2010 para cá foi aplicado cerca de US$ 1 bilhão em 50 instituições de pesquisa norte-americanas que atuam na produção de biodiesel a partir de microalgas. Elas também podem produzir etanol. Os carros da Fórmula Indy, por exemplo, já foram impulsionados por etanol extraído de microalgas por uma empresa norte-americana. No Brasil, o Centro de Pesquisa da Petrobras (Cenpes) analisa, em parceria com universidades, o aproveitamento das microalgas. O grande entrave ainda é produzir o etanol de microalga a um preço competitivo diante do petróleo e da cana-de-açúcar.
Marcio Busi acredita que assim que essa barreira for superada se abrirão muitas oportunidades para a suinocultura e o dejeto de suíno passará a ser cobiçado. “Como têm muitos nutrientes, os dejetos de suínos permitem a proliferação rápida das microalgas. Basta apenas um controle de operação, fácil e barato, para que elas troquem a quantidade celular de carboidratos e proteína por gordura. Assim, tornam-se matéria-prima de qualidade para a produção de biodiesel”, explica o pesquisador.
Sem o ajuste voltado ao biodiesel, as microalgas alimentadas com efluentes da produção de suínos, ricas em carboidrato e proteína, podem ser destinadas à produção de ração animal. Além de fornecer alimento para peixes, elas têm potencial para substituir parcialmente o milho e a soja nas rações de aves e suínos.
As microalgas podem ainda ser a base para a oferta de produtos voltados à saúde humana. A Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) realiza um estudo para extrair um bioativo de microalgas. Esse bioativo será usado para gerar posteriormente um arroz enriquecido em betacaroteno, voltado a quem tem deficiência de vitamina A.
E há ainda o potencial para a indústria farmacêutica e cosmética. Pigmentos extraídos das microalgas funcionam como antioxidantes biológicos. Eles se transformam em filtros naturais e já são utilizados para a fabricação de batons com protetor solar.
Outro produto que já pode ser encontrado em lojas especializadas são as cápsulas de ômega 3 extraídas de microalgas. Segundo Márcio Busi, se essa indústria crescer ainda mais, a suinocultura tende a se tornar um fornecedor importante de matéria-prima, por já ter o ambiente adequado para o crescimento rápido das microalgas.

Disponível em: <http://www.dm.com.br/economia/2015/05/microalgas-decompoem-dejetos-suinos-e-geram-biodiesel.html>
Acesso em 25/06/2015

segunda-feira, 15 de junho de 2015

Engenharia genética faz bactéria produzir antibacteriano

Ordenhando bactérias
Tal como um fazendeiro indo ordenhar suas vacas para produzir leite, cientistas estão cultivando colônias de bactérias Escherichia coli (E. coli) para produzir novas formas de antibióticos - incluindo três que poderão combater as bactérias resistentes aos medicamentos atuais.
Há mais de uma década, Blaine Pfeifer e sua equipe da Universidade de Buffalo (EUA) vêm estudando como usar a engenharia genética para convencer a E. coli a produzir novas variedades de eritromicina, um antibiótico muito popular.
Agora eles finalmente anunciaram ter tido sucesso, manipulando geneticamente uma cepa de E. coli que sintetiza não apenas uma, mas dezenas de novas formas da eritromicina, com estruturas um pouco diferente das versões existentes.
Eritromicina
Três das novas variedades da eritromicina produzidas pela E. coli conseguiram destruir bactérias da espécie Bacillus subtilis que eram resistentes à forma original de eritromicina utilizada clinicamente.
A eritromicina é usada para tratar uma variedade de doenças, de pneumonia e tosse grave, até infecções da pele e do trato urinário.
Os discos brancos são os antibióticos tentando combater a colônia de Bacillus subtilis que infesta cada frasco. Aqueles circulados em vermelho são as novas formas de eritromicina produzidas pelas bactérias. [Imagem: Guojian Zhang]

"Nós não apenas criamos novos análogos da eritromicina, mas também desenvolvemos uma plataforma para a utilização da E. coli para produzir a droga," comemorou Pfeifer. "Isto abre as portas para possibilidades adicionais de engenharia genética no futuro, o que poderá levar a ainda mais formas novas da droga."
O resultado é especialmente importante devido ao crescimento da resistência aos antibióticos.
Engenharia genética
Fazer a bactéria E. coli produzir novos antibióticos tem sido uma espécie de Cálice Sagrado para os pesquisadores da área da biologia sintética.
Isto porque a E. coli cresce rapidamente, o que acelera os experimentos e ajuda nos esforços para desenvolver e ampliar a produção de medicamentos.
A espécie também aceita novos genes de forma relativamente fácil, tornando-a um excelente candidato para a engenharia genética.